quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Viver sem delicadeza

De repente Maria se deu conta que a vida passava depressa por ela. A delicadeza, que tanto cultivava, ficava em segundo plano. Estava exausta de sentir o coração acelerado. Desejava minutos de sobra para largar um pouquinho o mundo e se ocupar com ela mesma. Queria poder guardar as horas só para si. Ir passando o tempo de mansinho, sem os atropelos que lhe roubavam a alma. Sem precisar consultar o relógio a cada momento. A vida dela não cabia mais nessa estreiteza. Seu desejo secreto era ser dona do próprio tempo. Existir além das obrigações do dia a dia. Buscava a intangível alegria da época da infância. Maravilhar-se e assombrar-se como acontecia na meninice, quando tudo parecia mais cintilante. A luta atroz pela sobrevivência a esgotava. Sentia que a sutileza definhava nesse mundo tão veloz. Estava faminta de liberdade, sedenta de vida larga. Não queria mais pagar o alto preço que lhe custava viver sem delicadeza.

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