quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A falta que ela faz

Aquela moça sentia uma falta aguda que lhe martelava o peito. Sentia falta dela mesma. Como um segredo bem guardado, se guardava do mundo. Escondia-se de tal modo que era capaz de nem se lembrar mais quem ela era. Esse segredo emprestava-lhe uma incongruente segurança. Possuía uma aparência era perturbadora: olhos oblíquos ligeiramente estrábicos, que se recusavam a olhar diretamente nos olhos das outras pessoas, e maçãs salientes, que coravam com facilidade. No porta-retrato da sala de estar os olhos verdes saltavam à vista das visitas. Aquela não era parecida com ela. Na foto ela não tinha segredos tão insondáveis. Parecia até serena. Mas seu espírito era tempestuoso. Aquela fotografia não era capaz de capturar toda a dramaticidade da sua vida. Fingia ser parecida com a maioria das pessoas. Afinal não se pode ser diferente impunemente. Não seria tão despudorada assim. Disfarçava seu desmedido desconsolo. Vagava pela vida carregando-se de estranhamento e solidão, sofrendo emoções que ainda não tinham nome. Sentia imensa saudade de si, mas tal saudade era sublimada pelo pudor de mostrar para o mundo quem ela verdadeiramente era. O tempo todo para ela faltava...ela!

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