quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Brincando de Deus

V. gostava mesmo era de gente. Bichinhos, plantinhas não tinham tanto apelo assim para ela. Ela amava as pessoas e suas nuances, suas idiossincrasias, seus medos... Tinha vontade de colocar a humanidade inteira no colo. Sentia um desejo intimo de ser Deus. Ela amava até as pessoas que não conhecia ainda. Podia amar um desconhecido como amava a sua mãe. E talvez até com uma intensidade maior. Bastava esse desconhecido estar precisando dela. Queria poder dar de comer para aqueles que sentem fome e dar de beber para os que sentem sede. E se pudesse se ocupava só de pessoas e mais nada. Mas o trabalho dela com a humanidade não lhe pagava um salário e ela precisava saldar suas contas. Como era difícil se ocupar das pessoas e ainda ter contas à pagar. Seu desejo secreto era ser mãe do mundo inteiro. Mas sabia que precisava ter calma e ser, sobretudo, modesta. Não era possível brincar de Deus impunemente. Pagava um alto custo por isso: sentia todas as dores da humanidade – e mal tinha tempo para se ocupar com as suas. Cuidava do mundo inteiro, mas não havia ninguém para cuidar dela.

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