quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A mulher que matou Deus

Desde pequena a mulher escutava as mesmas ladainhas: “Deus está vendo tudo que você está fazendo”, “seja uma menina comportada senão Deus castiga”, Deus isso, Deus aquilo... Fora criada em uma família católica, apostólica, romana. Sua avó chamava o santo nome até quando o leite derramava. Achava que Deus não seria capaz de perdoar os seus inúmeros pecados. A culpa a perseguia desde criança e transformava-se em uma enorme sombra em sua vida. Sentia-se vigiada em todos os seus passos. Não conseguia esconder d´Ele suas desordens íntimas, seus caminhos tortos, suas inquietações e palpitações. Deus, secretamente, ria de seus temores. Para ela Deus era uma invenção do homem para controlar os outros homens e seus instintos primários. E sendo apenas uma invenção ela poderia acabar com Ele, expiando assim sua culpa. Trêmula de medo, a perplexa mulher fez o sinal da cruz e então matou Deus. Por sorte ninguém viu, a não ser Ele mesmo. Deu um aliviado suspiro de satisfação. Desde então passou a viver plenamente.

Nenhum comentário:

Postar um comentário