quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O renascimento de Maria

Nem alegre, nem triste. Assim era Maria. Um certo ar de leveza... Um pouco estúpida talvez. Ainda acreditava nas pessoas. Pobrezinha essa tal de Maria por acreditar assim nos outros. Dava-lhes tanto crédito. Por mais que o mundo parecesse absurdo, ela teimava em enxergá-lo cor-de-rosa. Sem ao menos sentir-se culpada por sua inocência. Às vezes a realidade gritava com ela. Nessas ocasiões ela voltava-se para dentro de si. Tornava-se uma habitante absoluta de si mesma. Procurava, mas não conseguia encontrar a raiva dentro dela. Queria poder gritar de volta, mas, nessa hora, sua voz emudecia. Não encontrava forças senão para brigar consigo mesma. E se castigar, se punir por acreditar tanto assim na humanidade. Estava cansada de tanto perdoar. Tentava aprender a odiar. Mas não existia ódio dentro dela. E se espantava com isso. Não era capaz de retrucar à hostilidade alheia. Tinha nascido sem a capacidade de sentir raiva. E por isso ficava sempre tão desprotegida. Sua humildade a martirizava. Sentia-se enfraquecer por não conseguir reagir. Era-lhe mais natural amar. Sempre fora mais fácil amar. Mesmo que esse amor não fosse retribuído. Amava mesmo que não a amassem de volta. Era capaz de ser tudo de que a acusassem. Só para agradar. Uma desesperança começou a tomar vulto dentro dela e foi aos pouquinhos crescendo. Foi, devagar, abrindo os olhos. E se assustava com a forte luz que entrava e a cegava. Essa visão era uma promessa de felicidade. Agora o mundo não lhe podia mais doer tanto. Tinha sido salva por sua desesperança.

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