quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Segunda-feira

Segunda-feira, dia 10, Maria sacoleja em um ônibus cheio às 7h da manhã. Muitas horas depois estará voltando para casa, exausta. E no dia seguinte fará o caminho de ida e de volta novamente. O chefe gritará com ela nessa segunda e na terça também. “Desculpe qualquer coisa”, ela repete baixinho. Para ele e para o resto do mundo. Quando chegar em casa, o marido vai estar bêbado e baterá nela se o seu time tiver perdido. Acostumou-se a apanhar do marido como apanhara do pai em sua infância. Depois de servi-lo e lavar a louça do jantar, ela se deita e na terça começa tudo de novo. Assim é a vida de Maria. Vidinha medíocre, sim senhor. A alegria não conhece não. Mas se esforça para não perder de vista a esperança. Gosta de manter a fé ao seu alcance. Espera que a felicidade um dia a pegue pela mão e a leve para um passeio. Quando nasceu, Deus soprou em seu ouvido: “vai ser infeliz na vida”. Obedecia-O, tão humilde ela era. Obedecia-O de puro medo de conhecer a tal da desconhecida felicidade. E por não conhecê-la, morria aos pouquinhos. Desde pequena estava acostumada a morrer. Sua vida era bofetada na cara: do seu pai, do marido e de Deus.

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