quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O último caramelo

Quando pequena, a mãe comprava balas de caramelo para N. Ela sempre guardava a última bala porque ficava com pena de acabar. Tem coisas na vida que se parecem como essa última bala: ela quer guardar porque tem pena que acabe. Algumas vezes o último caramelo estragava e ela acabava não comendo. Assim era a vida... Os momentos de alegria eram como uma fotografia que tirara em um dia de sol no Zoológico. Aquele momento, apreendido por ela, nunca mais voltaria. O decorrer da vida era como um rio caudaloso: as águas que se moviam nunca eram as mesmas. Em momentos de grande diversão sempre lembrava que aquele instante iria acabar e a vida voltaria à sua normalidade. Ela tentava agarrar o momento, mas ele escorria por suas mãos. Como fazem todos os momentos. O fim da festa, o último minuto do dia do aniversário, a quarta-feira de cinzas lhe traziam um grande aperto na alma. A normalidade da vida não lhe interessava. Para ela todos os dias deveriam ser sábado de carnaval.

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