segunda-feira, 26 de março de 2012

Um futuro

Fico imaginado o meu velório, onde eu não vou estar, e isso nem dói tanto assim. Morrer dói mais!
Quase todos os dias penso na minha morte. Como eu penso que preciso ir ao dentista.
Outro dia fui a uma reunião de bicicleta e pensei: e se eu morrer como a personagem do livro que eu tô lendo (atropelada de bicicleta)?
Quem vai chorar? Quem vai segurar a minha mãe se ela desmaiar? Quem vai jogar uma rosa no meu caixão? Quem vai ler um poema?
E se for dia de sol? eu vou perder a praia! Se for dia de Flamengo jogando no Maracanã? Como vou saber o resultado do jogo?
E se for feriado? As pessoas não vão poder viajar, coitadas! E se for no meio do carnaval? Não vou poder desfilar no sábado das campeãs.
E se meu pai estiver em viagem de negócios? E se a pulseirinha do Bonfim não tiver arrebentado ainda? E se o novo filme do Woody Allen não tiver estreado? se eu não tiver aprendido a falar francês? Se eu não tiver uma filha chamada Maria?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Paixão

Vou guardar a paixão no bolso do pijama pra sonhar com você a noite!

Casa da vó

Tinha sempre alguma coisa cheirosa na cozinha. Tinha a minha avó esperando o meu avô chegar do trabalho na varanda com a comida quentinha no fogão. Tinha televisão passando sítio do Picapau amarelo de manhã. Tinha gato que se recusava a tomar vacina (que um dia me mordeu e eu tive que tomar vacina no lugar dele). Cachorro com nome de flor que fazia parte da família. Tinha a minha avó detestando os Estados Unidos porque o meu avô tinha que viajar pra lá a trabalho. Tinha um sofá disfarçado de baú onde a minha avó guardava fantasias. Tinha fantasia de sobra para todos os netos! Tinha a vovó ensinando as meninas desajeitadas a fazer crochê! Tinha dentadura dormindo no copo de água à noite! Tinham netas tomando banho de chuva na varanda! Tinha sopa na panela para os pedintes que batiam na porta. Tinha uma discoteca onde a gente botava o disco pra tocar e cantava junto. Tinha um avô autodidata que aprendia a falar uma língua nova quando estava com vontade. Tinha um rio na frente da casa onde a bola gostava de cair. Tinha cemitério de cães no quintal. Tinha uma parede desenhada pelo meu avô (um dia foi um pessoal do trabalho tirar foto dele com os netos para a revista da empresa!). Tinha uma cadeira de balanço que embalava o sono da vovó. Tinha uma família reunida todo domingo.