quinta-feira, 24 de outubro de 2013

O medo

Maria sempre foi corajosa, mas era de tanto medo que sentia. Tinha medo que as coisas dessem errado e um medo maior ainda de que dessem certo. Só Deus era capaz de entender essa lógica. De que misteriosa matéria é feita a existência! Quanto mais o mundo a amedrontava, mais destemida ela se tornava. Estava sempre à espera de ser surpreendida pelo extraordinário. Era de frio na barriga que Maria vivia. Sentia o ar lhe faltar nos pulmões. Passava de um abismo a outro queimando de um prazer sofrido de viver. Sua vida era chama que ardia. Vivia ofegante de tanta suscetibilidade. Assombrava-lhe o medo da morte. Que só não era maior do que o medo da vida. Já tinha morrido de tantas mortes. Resistia a ter uma vida contida: sem arroubos nem estremecimentos. Temia, isto sim, era mergulhar no espaço oco da existência vazia.

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